Thiago Santos é fotógrafo e fundador do projeto “Olha Pra Mim” (@projetoolhapramim), um sensível trabalho digital com foco no olhar de pessoas anônimas e famosas.
Junto com a SERVIER, produziu e criou o #PelaNossaCabeça, um movimento de conscientização pelas redes sociais que mostra, por meio da fotografia poética, alerta: o glioma não escolhe idade, gênero ou classe social e pode atingir a todos.
Os gliomas são tumores que surgem em certos tipos de células cerebrais e representam cerca de 81% dos tumores malignos primários na região.[1, 2]
A Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou, em 2021, a forma como os gliomas são classificados. Essa nova classificação leva em conta não só a aparência dos tumores ao microscópio, mas também suas características genéticas.[3]
Um dos pontos principais dessa atualização é uma alteração genética em uma proteína chamada IDH (isocitrato desidrogenase). Com base nessa mutação, os gliomas podem ser divididos em dois grupos: aqueles que possuem a mutação no IDH e os que não possuem, chamados de “IDH selvagem”. Esses dois tipos de gliomas se comportam de maneiras diferentes e têm características próprias.[4]
Assim, os gliomas difusos em adultos são classificados pela OMS em três tipos principais:[3, 4]
Os astrocitomas originam-se dos astrócitos, células gliais em forma de estrela, cuja função de sustentação, nutrição e proteção são essenciais para o funcionamento do sistema nervoso central. [5]
Para ser classificado como um astrocitoma, o tumor deve obrigatoriamente ter uma mutação na proteína IDH. [6]
De acordo com suas características histológicas, pode ser classificado como grau 2 (baixo risco) ou como grau 3 e 4 (alto risco). [5, 7]
Os oligodendrogliomas originam-se dos oligodendrócitos, células gliais que protegem a sinalização elétrica nas células nervosas. [5, 7]
Esse tumor precisa ter, além de uma mutação na proteina IDH, outra alteração molecular chamada de codeleção 1p/19q para ser classificado como oligodendroglioma. [6, 8]
Os oligodendrogliomas são classificados em baixo grau (grau 2) e alto grau (grau 3), de acordo com as suas características histológicas. [6, 7]
Os glioblastomas são um tipo de tumor cerebral mais agressivo, que se desenvolve a partir de células chamadas gliais, responsáveis por dar suporte ao funcionamento dos neurônios. Eles são conhecidos por crescerem rapidamente e por precisarem de um tratamento mais intensivo. [5, 9]
Embora os glioblastomas não sejam muito comuns, eles representam cerca de 15% dos tumores cerebrais em adultos e são mais frequentes entre pessoas de 45 a 70 anos, mas também podem ocorrer em outras idades. [10]
De acordo com a OMS, o glioblastoma é classificado histologicamente como grau 4. [3]
Essa nova abordagem ajuda médicos e pesquisadores a entenderem melhor a doença e a buscarem tratamentos mais personalizados para cada paciente.[3]
Alterações na função mental
Convulsões
Dificuldades de fala
Dificuldades de coordenação motora ou equilíbrio
Dor de cabeça intensa e recorrente
Náusea
Vômito
A presença dos sinais e sintomas descritos acima, exigem uma investigação completa, que inclui uma avaliação neurológica detalhada e avaliação por imagem. [5, 11]
No entanto, o diagnóstico definitivo do tipo de tumor só pode ser obtido após a realização de uma biópsia ou cirurgia, com a retirada de um fragmento do tumor. Esse material é enviado para análise anatomopatológica e para a realização de testes específicos para identificar mutações características dos gliomas. Esses testes são fundamentais para confirmar o diagnóstico e direcionar o tratamento adequado. [5, 11]
Muitas dessas alterações identificadas estão relacionadas ao crescimento e a agressividade dos gliomas. Destacam-se nesse cenário as alterações em IDH1-2, ATRX, CDKN2A/B, co-deleção do cromossomo 1p/19q, TP53, TERT [5, 12]
Testes para identificação da mutação em IDH
A pesquisa da mutação IDH é um passo essencial no diagnóstico de gliomas difusos do tipo adulto. A maioria dos médicos solicita primeiro o teste de imuno-histoquímica, uma técnica amplamente usada por ser rápida, acessível e eficiente. Esse método identifica a mutação mais comum, IDH1 R132H, presente em cerca de 90% dos casos. [11, 13, 14]
No entanto, se o resultado da imuno-histoquímica for negativo, isso não significa que não há mutação no gene IDH. Outras mutações no IDH1 ou IDH2, que também impactam no tratamento do paciente, podem estar presentes, mas não são detectadas por esse teste inicial. Nesses casos, é necessário realizar exames mais avançados, como o sequenciamento de nova geração (NGS), para garantir um diagnóstico preciso. [15]
A combinação de testes garante um diagnóstico completo, ajudando a definir o melhor tratamento para cada paciente.
Procure seu médico e fale sobre diagnóstico e opções de tratamento.
Opções de tratamento [5, 16]
Diferentes estratégias de tratamento podem ser empregadas no tratamento dos gliomas difusos, levando em consideração características da doença e do paciente.
Veja abaixo:
É o tratamento inicial mais comum dos gliomas. A ressecção total (preferencial) ou parcial é realizada pelo neurocirurgião.
Objetivo
Retardar o crescimento do tumor, além de promover controle dos principais sintomas, como convulsões e reduzir a pressão intracraniana.
Apesar da cirurgia remover grande parte do tecido tumoral, muitas vezes outras estratégias, associadas ao tratamento cirúrgico, são necessárias.
Para alguns tumores de baixo grau e crescimento lento que provavelmente não progredirão rapidamente, pode ser usada uma abordagem do tipo “observar e esperar”. Trata-se de um monitoramento ativo, com exames periódicos. Com o monitoramento ativo, não haverá nenhum tratamento imediato, a menos que os sintomas se desenvolvam, piorem ou o exame mude.
Objetivo
Postergar possíveis efeitos colaterais causados pelo tratamento.
*Pode acontecer antes ou depois da quimioterapia, radioterapia ou cirurgia, dependendo do tipo de tumor.
Caso o glioma apresente uma mutação, pode haver um tratamento específico disponível para agir sobre essa alteração específica.
Objetivo
Atingir diretamente a mutação que contribui para o crescimento do tumor.
A radioterapia é um tipo de tratamento contra o câncer no qual se utilizam radiações ionizantes (raio-X, por exemplo), para destruir ou impedir que as células cancerígenas se multipliquem.
Objetivo
Matar as células cancerígenas que podem ter sobrado após a cirurgia ou impedir que elas se multipliquem.
É um tratamento que utiliza medicamentos específicos (quimioterápicos) para destruir ou inibir o crescimento de células cancerígenas. Esses medicamentos atuam de forma sistêmica, ou seja, percorrem o corpo através da corrente sanguínea e podem atingir tanto o tumor quanto células cancerosas que possam ter se espalhado para outras partes do organismo.
Objetivo
Matar as células cancerígenas que podem ter sobrado após a cirurgia ou impedir que elas se multipliquem.
Ensaios clínicos são estudos realizados para avaliar novos tratamentos ou medicamentos, ajudando a melhorar o cuidado à saúde de maneira segura e controlada.
Objetivo
Oferecer acesso a tratamentos inovadores que ainda não estão amplamente disponíveis, contribuindo para avanços na medicina.
Equipe envolvida no tratamento [5, 21]
Em geral, as decisões terapêuticas no tratamento dos pacientes com glioma são tomadas de forma multidisciplinar durante reuniões que integram diagnóstico, planejamento terapêutico e revisões contínuas do caso. Esses encontros garantem a correlação de achados clínicos, de imagem e moleculares para um diagnóstico mais preciso, além de possibilitar decisões terapêuticas personalizadas e ajustes no tratamento conforme necessário. Essa colaboração otimiza os desfechos e proporciona mais segurança ao paciente e sua família.
As equipes que participam dessas reuniões podem variar, mas, na sua maioria, contam com:
Neurorradioterapeuta
Neurocirurgião
Patologista
Neuro-oncologista
Radiologista
Muitos pacientes que recebem um diagnóstico de câncer encontram conforto nos vários grupos e organizações de apoio que existem para ajudar pacientes e cuidadores em tratamento. [5]
Referências
[1] FORST, Deborah A. et al. Low-grade gliomas. The oncologist, v. 19, n. 4, p. 403-413, 2014.
[2] OSTROM, Quinn T. et al. The epidemiology of glioma in adults: a “state of the science” review. Neuro-oncology, v. 16, n. 7, p. 896-913, 2014.
[3] LOUIS, David N. et al. The 2021 WHO classification of tumors of the central nervous system: a summary.Neuro-oncology, v. 23, n. 8, p. 1231-1251, 2021.
[4] Silvani A. New perspectives: glioma in adult patients. Tumori. SAGE Publications Ltd; 2023.
[5] NCCN Guidelines for Patients. Brain Cancer Gliomas. Disponível em: https://www.nccn.org/patients/guidelines/content/PDF/brain-gliomas-patient.pdf. Acesso em: 10/01/2024. https://www.nccn.org/patients/guidelines/content/PDF/brain-gliomas-patient.pdf;
[6] Reuss DE. Updates on the WHO diagnosis of IDH-mutant glioma. Vol. 162, Journal of Neuro-Oncology. Springer; 2023. p. 461–9.
[7] RAMOS, Rubia Nara Alves; MATSUDA, Thelma Yuri Lago; CZEPULA, Alexandra. Terapias-alvo no tratamento do glioblastoma em adultos: Uma revisão de escopo. Research, Society and Development, v. 13, n. 4, p. e2113445474-e2113445474, 2024.
[8] FERNANDES, Renata Tarraf et al. Nova classificação das neoplasias gliais segundo a Organização Mundial da Saúde 2021, com enfoque radiológico. Radiologia Brasileira, v. 56, p. 157-161, 2023.
[9] Mesfin FB, Al-Dhahir MA. Gliomas Continuing Education Activity [Internet]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441874/. Acesso em: 10 jan. 2025.
[10] GROCHANS, S. et al. Epidemiology of glioblastoma multiforme–literature review. Cancers, v. 14, n. 10, p. 2412, 2022.
[11] WELLER, Michael et al. Glioma. Nature reviews Disease primers, v. 1, n. 1, p. 1-18, 2015.
[12] GARCIA-FABIANI, Maria B. et al. Genetic alterations in gliomas remodel the tumor immune microenvironment and impact immune-mediated therapies.Frontiers in Oncology, v. 11, p. 631037, 2021.
[13] VALADARES, Adriana Domingues et al. Perfil Anatomopatológico e Imuno-histoquímico de Gliomas de Pacientes da Região de Maringá-PR. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 67, n. 3, 2021.
[14] WERNER, Betina et al. Uso prático da imuno-histoquímica em patologia cirúrgica. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 41, p. 353-364, 2005.
[15] MIMOSA, M. L. et al. A novel approach to detect IDH point mutations in gliomas using nanopore sequencing: test validation for the clinical laboratory. The Journal of Molecular Diagnostics, v. 25, n. 3, p. 133-142, 2023.
[16] LERNER, Anna et al. Gliomas in adults: Guidance on Investigations, Diagnosis, Treatment & Surveillance.Clinical Medicine, p. 100240, 2024.
[17] PERSICO, Pasquale et al. Precision oncology in lower-grade gliomas: promises and pitfalls of therapeutic strategies targeting IDH-mutations.Cancers, v. 14, n. 5, p. 1125, 2022.
[18] HAYHURST, Caroline. Contemporary management of low-grade glioma: a paradigm shift in neuro-oncology.Practical neurology, v. 17,n. 3, p. 183-190, 2017.
[19] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Radioterapia. Instituto Nacional do Cancer (INCA), 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tratamento/radioterapia. Acesso em: 06.02.2025
[20] XU, Emily et al. Low-Grade Glioma Clinical Trials in the United States: A Systematic Review.Life, v. 14, n. 9, p. 1133, 2024.
[21] LAVRADOR, Mr José Pedro et al. Low grade glioma clinic-establishing an innovative service based on a multidisciplinary approach.Neuro-Oncology, v. 20, n. Suppl 5, p. v352, 2018.